quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Primeiro dia no paraíso


Mais ou menos 3 horas depois do meu desembarque, a única coisa que me passava pela cabeça tremendo de frio fazia parte de uma música do New Radiant Storm King que conseguia resumir um pouco da epopéia que foi o dia 11 de abril: “I remember getting lost in Boston, it was the worst city I’d ever seen”.

Ajudado por senhoras caucasianas e por uma alma brasileira caridosa – do quase xará Stefani – consegui chegar sem ter meus dedos do pé amputados devido à longa caminhada sob chuva e rajadas de vento gelado. Bastaria comer uma pizza de micro-ondas, sossegar durante 4 horas e, então, partiria para algum show.

Embora ainda faminto, apenas um dos dois especiais do dia me seria ofertado. A primeira opção do cardápio era uma combinação de comida refinada da terra. De primo piatto Crooked Fingers à base de Eric Bachmann, ex-líder do Archers of Loaf, e de secondo piatto, a suculenta proposta folk-rock da canadense, ex-The New Pornographers, Neko Case.

De segunda opção, a autêntica comida americana. Appetizers insossos de Mic Harrison & The Highscore velho e requentado, seguido por uma taça de milk-shake de baixa caloria para uma nova geração obesa de Cassavettes e outras repetições. Até que, finalmente, algo digno de entupir as veias, o original hot-dog gorduroso e recheado de sabor Superdrag.

O fato de escolher a segunda foi estudado. Em menos de um mês eu assistira Radiohead e Kiss, dois espetáculos de arena, e agora estaria na hora de ver uma banda retardada, que sua e cospe, enquanto bate cabeça e dá braçadas impiedosas na guitarra. É esta recordação que eu terei deste show, de gente comum dos Estados Unidos como John Davis – líder da banda e aniversariante do dia (veja-o recebendo o bolo ao lado) – que está pouco ligando para fase atual do rock.

Outra recordação recorrente é dos integrantes da banda vestidos de funcionários de uma cafeteria ou mesmo daquelas lanchonetes que imitam os anos 50, com grandes cabines de refeições e poltronas estofadas. É o clipe da música Sucked Out que percorreu a programação de uma MTV atacada por bandas como Guided by Voices, Radish e Buffalo Tom no meio da década de 90. Programas como Gás Total – apresentado por Gastão Moreira - exibiam o que mais tinha de palatável na época.

Em meio a todo saudosismo declarado pela banda, não agüentava a intermitente câimbra que impossibilitava manter-me de pé. Espontâneos e agradecidos, citaram o Paradise Rock Club – o único lugar a frescar com o meu passaporte – como um dos pilares dos 15 anos de carreira da banda. Um lugar bem parecido estruturalmente com o Centro Cultural Cidade Velha – antiga Sarajevo – que dentro dos padrões das casas modernas, traria à Boston os mais cultuados pratos da cultura americana. No trajeto de volta ao subúrbio, eu pensava em devorar a cidade viva, sem talheres e com a mesma voracidade que os músicos laricados atacaram aquele bolo de aniversário. Era meu primeiro dia.

Link para algo bem parecido: http://www.youtube.com/watch?v=1XhcdUUWQFs



segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Rockanemia



A diversão está em extinção no rock mundial, logo nele. Atualmente, qualquer pretensiosinho do quarteirão que ganha uma guitarra e aprende inglês anseia em se tornar um músico, daqueles que formam bandas com nomes “pra frentex” e desconhecem o que é presença de palco. Eu confesso que essa pessoa era eu, mas depois da aula de rock ministrada no dia 7 na Arena Anhembi, meu sonho, que já tinha a validade vencida, foi definitivamente despejado no Tietê.

As 37 mil almas condenadas a mediocridade viram emergir dali da margem do rio, num cenário de explosões, fumaça e vôos espetaculares, a verdadeira essência do rock and roll, a capitalização de quão criativo e inventivo é o Kiss. Foi exatamente onde as demais bandas erraram, quando, nos anos 80, a ascendência punk ditava como seria o futuro do rock (pequeno e introvertido), aqueles que se julgavam aliens (Gene Simons e Paul Stanley) traçavam com a mais legítima caligrafia o significado de MEGALOMANIA.


Essa atitude de se provar capaz ao longo de 35 anos é que ressalta a grandeza e superioridade deles. Nenhum outro consegue abrir unindo clássicos headbangers como Deuce e Strutter sem perder o compasso até o bis. Claro que eles são sexagenários e precisam de um tempo para descanso, contando com a intensidade do novo guitarrista Thommy Tayer para disfarçar a retomada de fôlego dos demais integrantes. A partir de então, afasta-se cada vez mais a possibilidade de uma outra banda encerrar com uma seqüência tão maravilhosa quanto Shout it Out Loud/ Lick it Up/ I Love it Loud/ I Was Made for Lovin' You/ Love Gun e, no ingrato berro de adeus sobre Detroit Rock City, testemunhar o esvair de exaltação daqueles que como eu conseguiram presenciar algo incomensurável.
.
.
Queria dizer neste rodapé que foi insustentável, na minha permanência em Boston e nos meses de junho e julho em Belém, continuar atualizando o blog.
À todos aqueles amigos que me perguntaram sobre este hiato, aviso a vocês dois que voltei com força total. Hehe.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Missão Kiss

O show do KISS está chegando, faltam apenas umas horinhas para poder ouvir os gritos iniciais: “You Wanted the Best, You got the Best”, os primeiros acordes rasgando o silêncio e a continuidade deles poluindo as atenções. Situação que me faz pensar em tempo e espaço. O quanto essa banda de 35 anos tocou por esse universo e o quanto virá a tocar... E eu aqui reclamando da complicada missão que foi comprar os ingressos e o que ainda está por vir, pois há uma longa pernada daqui ao show, e eu ainda vou sozinho, afinal, a vida não é fácil.
Confira comigo:



MISSÃO COMPRA


De metrô (Vila Madalena), de van (Cidade Universitária) , de trêm (estação Santo Amaro), de onibus (até o Credicard Hall e dali pra estação Ana Rosa) e a pé (até casa)
MISSÃO SHOW

De metrô (até Portuguesa-Tiête), depois uma pernadazinha (até a Arena Anhembi).
to indo!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

E o Rio de Janeiro Continua Freak??


Como diferenciar Thom Yorke dos demais rockstars perdidos pelo mundo? Bono Vox, Paul McCartney e Mick Jagger são pobres mortais quando o assunto é esquisitice. O líder do Radiohead é uma persona atípica no mainstream. Alguém que além de conseguir fazer canções melancólicas sem torná-las piegas, ou de se familiarizar com elementos eletrônicos a ponto de transformá-los em rock and roll de primeira qualidade, traz o berro clamando ser uma aberração. Porém, ao longo de sua história, viu-se que se adaptou ao mercado fonográfico e artístico como nenhum outro. Um Robert Smith darwinista.

Quando o Radiohead desembarcou no Rio de Janeiro, tudo o que se esperava era o inesperado, e nada mais seria essa síntese do que Thom Yorke na praia, jogging e meditando ao pôr-do-sol, algo que absolutamente iria se refletir na Apoteose – outro símbolo esquisito da história toda. Lançando mãos dos acontecimentos, uma coisa era fato: seria aproximadamente duas horas e meia de show e nelas estariam inclusas todas as músicas do In Rainbows. O restante do show era uma incógnita. Tirando os hits do Ok Computer, haveria surpresas bizarras dos demais álbuns, diferente do show de São Paulo, que seria televisionado e precisaria das clássicas Fake Plastic Trees, Lucky, Pyramid Song e The Optimistic para garantir o show dos telespectadores.

Entre escolher qual dos dois shows ir, a feliz coincidência da data carioca cair exatamente no dia de meu aniversário me fez escolher. Dia 20, o dia que presenciei e fui presenteado com um dos melhores shows da minha vida enquanto outros ensaiavam uma reboladinha em Idioteque e There There. União do conjunto de fatores que fez do espetáculo uma enorme contradição. Acredito que esse é o espírito da coisa toda. O sentido de tudo. Quanto ao show de São Paulo, eu baixarei da net algum dia aí...

sábado, 14 de março de 2009

Monkey Gone To Boston



“Você vai para a faculdade ano que vêm, vai começar a curtir Godspeed You! Black Emperor e The Shins...” é parte do dialogo de Pineapple Express, o filme de ação que deixou Cheech and Chong “doidões” de inveja. O fato do rock se infiltrar na vida dos acadêmicos modificou a condição antiquada de estilo musical ordinário, transformando-se na mistura de new-wave, pós-punk e o que fosse preciso para poder ambientar-se na classe média estadunidense.

As faculdades estão espalhadas por todo os Estados Unidos e nada mais normal que a gigantesca megalópole nordestina – que liga a capital Washington à Boston –, fosse a região com o maior número delas e com excelência no quesito. Na Universidade de Massachusetts Amherst, os nerds Joey Santiago e Black Francis (no centro da foto) se juntaram para formar a banda mais importante do fim de século, os Pixies.

Como viajar no tempo ainda está fora de questão, tentarei viver um pouco daquela experiência estudando inglês durante dois meses em Boston, acompanhando os shows e a química da região que nos presenteou com Dinosaur Jr., Sebadoh, Mission of Burma, New Radiant Storm King, Pernice Brothers e, lógico, Pixies.

Além da música, Boston tem um valor sentimental muito forte por ser a cidade escolhida por médicos brasileiros para tratar a deficiência física do meu irmão. Os laudos não conseguiram apontar nada e meus familiares não freqüentaram outro lugar senão o hospital e hotel – unidos por uma passarela –, mas, mesmo assim, não há nenhum rancor por parte dos meus pais. Minha mãe, que me apelidou de Chicagão por ter insistido numa viagem em 2006 para Chicago, hoje me chama de Bostãon. Ela se diverte, e eu sei que piada de mãe a gente é obrigado a rir.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Teoria Roqueira de Kondratieff


No mundo da produção segue a máxima de que TUDO É CÍCLICO. Gráficos, estatísticas e percepções numa montanha-russa que, segundo o economista russo Nikolai Kondratieff, restabelece o equilíbrio natural das disfunções financeiras.


No mundo da música, fazendo as contas no meu velho relógio-calculadora Casio, concluí que entramos na fase de efervescência da Seattle pré-grunge, enquanto na outra costa as estações de rádios dos Colleges e os selos independentes – como a MATADOR – conseguem divulgação interestadual do que então era chamado de Indie Rock e passou a ser Lo-Fi.


Na verdade, eu quero ser esse profeta que previu a volta de um indie rock heterossexual decente, pois a primeira década desse novo milênio foi, digamos assim, meramente simpática. A constatação é definitiva quando feita a análise dos filmes dos Beatles de ambas décadas. Em Backbeat (1994), a trilha cinematográfica que contava com a banda mais rock'n roll da época, formada por David Grohl (Nirvana, Foo Fighters), Mike Mills (REM), Thruston Moore (Sonic Youth) Greg Dulli (Afghan Whigs, Twilight Singers e Gutter Twins) entre outros que fazem Across the Universe (2007) parecer um conto gay narrado pela Britney Spears. Coitado do Lennon.


Eu não sou saudosista, pelo contrário, me considero um otimista ao acreditar que 2009 tem a oportunidade de ser o pedido de perdão dessa geração, porém, enquanto o pedido formal ainda não se encaminha aos destinatários, tentarei achar o próximo Kurt Cobain nas páginas do Myspace.